Covilhã, 15 de Novembro de 2000, 23 horas e 15 minutos
Lá fora soava o som de trovões, seguido da luz dos relâmpagos que surgia na janela do quarto enquanto a chuva teimava.
Liliana olhava para a sua filha Clara, enquanto esta dormia profundamente, e pousava a sua mão direita sobre a sua enorme barriga como se esta tivesse as formas do pequeno bebé que estava para nascer.
De volta ao seu cómodo quarto soou a campainha no andar de baixo.
- Deixa-te estar querida. Eu vou lá. - disse o seu marido. Descendo as escadas, Francisco perguntava-se sobre quem seria àquela hora.
Liliana ficara no quarto a preparar-se para ir dormir, o dia tinha sido cansativo e a sua gravidez de sete meses já começava a pesar-lhe nas pernas e nas costas. Mal se estendeu na sua cama começou a ouvir gritos que pareciam provir de uma grande discussão no andar de baixo, mas devido ao som do mau tempo não conseguia perceber o que as duas vozes, a do seu marido e a da visita, diziam.
Foi quando ouviu um estrondo que achou melhor descer para perceber o que se passava. Assim que desceu as escadas o seu olhar fixou o corpo estendido no chão da sala rodeado de fragmentos de vidro do que era antes uma mesa. Liliana demorou cerca de um segundo a perceber o que se passava, e foi aí que o terror se abateu sobre si... e sobre o pequeno ser que tinha dentro de si...